Ele certamente era um desastre
nas quatro dimensões. Não funcionava mesmo. Até tinha certo charme, com aquele
ar distante de intelectual instantâneo, citações pseudo-inteligentes e tal, mas
viver....aí já era outra historia! Seus relacionamentos então, péssimos. Começavam
bem, não me entendam mal. Flores, bilhetes, poemas, juras de amor eterno... até
a próxima terça –feira. Sentia-se mal com tanta frivolidade afetiva. De certa feita
foi consultar um psicólogo que o ouviu pacientemente durante 55 minutos —
apenas para afirmar ao final da consulta que sentia “incrível inveja” de suas
proezas amorosas! Isso o revoltou sobremaneira e ele decidiu fazer greve de
amor, eclipsar o sexo. Conseguiu. Durante longas seis semanas sofreu sozinho e
escreveu como nunca. Depois, queimou tudo o que havia escrito neste período.
Entre viver e escrever escolheria a segunda opção, sem pestanejar. O problema é
que escrevia mal. Mal para cacete. Agradava a alguns, mais a algumas, com
aquele verniz de “olha-que-incrível-coincidência” em seus poemas, mas era só. Não
tinha consistência. Não tinha peso. E assim foi até conhecer Dalila. Com ela
sentiu-se Sansão. (péssimo trocadilho do escriba deste). Ela em verdade, nem
ligava muito para o que ele escrevia. Lia, sim, por polidez e consideração. Mas
emudecia sempre e alegava “nada entender de literatura” para poder opinar. Um dia
ela o deixou. Não por outro ou outra. O deixou simplesmente. Ele desesperou-se
e tentou escrever algo. Não saía nada. Ficou mudo, suas penas secas de tinta. Inspiração
a zero. Decidiu então, por falta de outra coisa a fazer ou saber fazer,
escrever suas memórias. As memórias de um sedutor. Foi fiel aos fatos. Extensos.
Virou Best-seller, vendeu pacas. Revoltou-se e desta vez, parou mesmo de
escrever. Hoje dizem, é pacato sacristão numa cidadezinha do Vale do Paraíba.
Muitas mulheres ali, coincidentemente, estão deixando seus maridos!
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