Voltei mais uma vez àquela casa.
Relutante, como sempre. Minha vó habitava ali e sua extrema sabedoria me inibia
e me afastava para longe. Mas desta vez eu definitivamente precisava ouvir seus
conselhos. Lembrava-me das horas vazias, intermináveis que fitando o teto da
humilde casa, vigas descascadas à mostra, destino oculto por detrás de uma
penumbra difusa, esperei o futuro se apresentar e me recolher da
insignificância involuntária.
Voltei, no entanto, para tentar
apaziguar meu coração aflito. Ela como sempre, me fitou serena, seus olhos tão
cheios de amor que me fuzilavam acusando minha incapacidade de retribuição.
— Vó?
— Meu filho, você está tão magro
— começou na eterna cantilena de todas as avós do mundo.
— Vó, o que eu faço com as
palavras que digo e depois me arrependo de ter dito?
— Meu filho, palavras são como
pedras: se planejadas, colocadas uma a uma, com capricho em cima de outra,
constroem-se com elas pontes, estradas, cidades, castelos. No entanto, se
soltas, disparadas aleatoriamente, podem matar, mesmo àqueles mais fortes, como
David fez com Golias. São armas letais.
— Vó....mas as tais pedras
atiradas a esmo, sem pontaria, não podem ser recolhidas e com elas recomeçarmos
nosso castelo?
— Depende, meu filho. Se você as
recolher cuidadosamente, com muito amor e do outro lado, quem foi atingido
também tiver este mesmo amor, juntos podem sim, construir o que quiserem.
Principalmente pontes.
Me despedi e não aceitei o pão
sempre quentinho e o leite que me ofereceu. Não queria que visse, que pela
primeira vez, meus olhos estavam úmidos. Aquela velhinha.....
Cezar F. “mais uma crônica
bestinha de um cotidiano aleatório....”
junho de algum ano aí.
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