Era como se fosse um sonho, mas era mais. Venho caminhando lentamente e com a cabeça baixa. A minha frente, me esperando, o mais severo tribunal de todos os que já enfrentei. Composto de meus filhos, eles são os jurados e os juízes. Vejo também as difusas silhuetas de seus futuros filhos, meus netos que jamais conhecerei e ainda menos nitidamente os filhos destes, minha descendência. Me dou conta do peso e da responsabilidade que negligenciei. A mochila abstrata onde carrego minhas culpas (acessório de minha vã consciência) é colocada sobre uma mesa. Imaginária e pesada. Paradoxalmente, ao deixá-la cair, não sinto o alívio do peso. Sinto, ao contrário, a severidade dos muitos olhares cravados em mim. Penso, tento, quero refazer meus passos incertos. Sei que se tivesse uma chance, pisaria mas firme e andaria com menos hesitação. Fui presa fácil das tentações, dos vícios, das armadilhas que nos aguardam a cada curva de estrada. Respiro fundo e o ar vem quente, queimando levemente minhas narinas, envenenando meus pulmões. Nivelo meu olhar, mas rapidamente recuo ante a multidão de olhos acusando-me surdamente. Não há sons e nem palavras, são desnecessárias. Mentalmente procuro achar uma saída, mas meu corpo está preso ao chão. Mais silhuetas vagas e difusas vão se aproximando silenciosamente se juntando às primeiras. Gerações de mim se sucedem cada qual tentando aliviar-me do peso de ser quem sou ou fui. Eu me sinto cada vez mais pesado...
Um espaço para experiências para lá de pessoais com palavras, textos, ritmo, coesão, consistência e, principalmente, para exercitar a auto disciplina.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Devaneios pós modernos
Era como se fosse um sonho, mas era mais. Venho caminhando lentamente e com a cabeça baixa. A minha frente, me esperando, o mais severo tribunal de todos os que já enfrentei. Composto de meus filhos, eles são os jurados e os juízes. Vejo também as difusas silhuetas de seus futuros filhos, meus netos que jamais conhecerei e ainda menos nitidamente os filhos destes, minha descendência. Me dou conta do peso e da responsabilidade que negligenciei. A mochila abstrata onde carrego minhas culpas (acessório de minha vã consciência) é colocada sobre uma mesa. Imaginária e pesada. Paradoxalmente, ao deixá-la cair, não sinto o alívio do peso. Sinto, ao contrário, a severidade dos muitos olhares cravados em mim. Penso, tento, quero refazer meus passos incertos. Sei que se tivesse uma chance, pisaria mas firme e andaria com menos hesitação. Fui presa fácil das tentações, dos vícios, das armadilhas que nos aguardam a cada curva de estrada. Respiro fundo e o ar vem quente, queimando levemente minhas narinas, envenenando meus pulmões. Nivelo meu olhar, mas rapidamente recuo ante a multidão de olhos acusando-me surdamente. Não há sons e nem palavras, são desnecessárias. Mentalmente procuro achar uma saída, mas meu corpo está preso ao chão. Mais silhuetas vagas e difusas vão se aproximando silenciosamente se juntando às primeiras. Gerações de mim se sucedem cada qual tentando aliviar-me do peso de ser quem sou ou fui. Eu me sinto cada vez mais pesado...
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