terça-feira, 22 de maio de 2012

Coisa antiga. Escrita em Londres, por volta de 1982.


Caminho sozinho na noite fria,
volto para casa.
O vento furioso me alcança,
me rodeia, me fustiga, me fere,
mas não me atinge!

Sou insensível a sensações.
Breves lapsos além da realidade,
são meu tormento.
Mergulho num mar de mim mesmo,
em vão...

Procuro encontrar aquela elusiva
faceta do meu eu,
que sei ser justa e real.
Deparo-me com imagens sobrepostas,
confusas, temerosas.

Vagueio em círculos constantemente.
Cores berrantes, surreais me
cobrem as retinas...
Tento desesperadamente nivelar
meus pensamentos.

Gostaria de gritar em desespero
para que o infinito
me  ouvisse e me contestasse.
Mudo, permaneço em protesto.

Em partículas de tempo,
me decomponho em mínimas
células.
Difusas, independentes, contraditórias.
Sou milhões de átomos nervosos
em atrito, em comunhão.

Réstias de luz se filtram pelos
espaços, criando sombras.
Projetam-se ângulos no infinito
de proporções misteriosas.

Desdobram-se as projeções de
imagens de mim.
Bombardeio todos os cantos
com reflexos consequentes.

                    Deliro,
Deliro mais e mais.
Já não sou matéria.

Parti e me torno ilusão,
Sensação, saudade.

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